quinta-feira, 29 de março de 2012

LUTO: Morre Millôr Fernandes, aos 88 anos, no Rio de Janeiro

Morreu no Rio de Janeiro, o escri­tor, dese­nhista e jor­na­lista Millôr Fernandes, aos 88 anos. Ele estava em sua casa, no Rio, às 21h da terça-feira quando fale­ceu, de falên­cia múl­ti­pla dos órgãoes. As infor­ma­ções são do UOL.

Segundo a famí­lia do autor, ele teve uma parada car­díaca nesta terça, seguida da falên­cia dos órgãos. Ele che­gou a ser inter­nado duas vezes na Casa de Saúde São José, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Ele deixa dois filhos, Ivan e Paula e um neto, Gabriel. Era casado com Wanda Rubino Fernandes.

Millôr come­çou a cola­bo­rar com a revista O Cruzeiro pre­co­ce­mente, aos 14 anos. Foi um dos fun­da­do­res do jor­nal “O Pasquim”. Ficou mais conhe­cido pelos car­tuns que publi­cou em livros e jor­nais. Ele ainda era dra­ma­turgo, poeta, jor­na­lista e tradutor. (fonte: revista o grito)





O último texto publicado, em 12 de agosto de 2001:
Da eutanásia
Mais cedo ou mais tarde todo articulista decente tem que falar da eutanásia, razão pela qual eu custei tanto a me decidir. De saída é uma palavra tão bonita que, se a pronunciamos contra o céu azul do colocar-do-sol (antigo pôr-do-sol) de um dia de domingo, qualquer pessoa, por menos poética que tenha a alma, percebe imediatamente que somos muito cultos e lidos. De qualquer forma não é necessário esperar o domingo para usar a eutanásia, já que nos dias comuns essa palavra também pode ser empregada, embora só em legítima defesa.
Porém, que é a eutanásia? A eutanásia, inventada no ano de 1200 por Sir Lawrence Olivier Lancelot, tornou-se imediatamente muito popular entre médicos que tinham pressa em receber as contas das viúvas. Aplicada aos doentes, ela dá excelentes resultados, curandoos completamente dessas tola mania de chamar médicos quando está doente. Médicos só devem ser chamados quando se está vendendo saúde. Por exemplo, aos 18 anos, fazendo surfe no Arpoador.
Outrossim (que eliminou da língua o outronão), é muito fácil saber se você contraiu eutanásia: basta olhar pro canto e ver se a junta médica está falando em voz baixa. Se estiver, é porque você acabou de ser convocado para fim de herói russo no período comunista ou pra doador de órgãos na China atual. Isso, no Brasil do século XIX, ainda não se chamava eutanásia, se chamava "Voluntários da Pátria".
Na Idade Média (aproximadamente 40 anos) essa ciência chegou a ser muito praticada, principalmente em Caxias, no Rio, tendo até mesmo o Sr. Tenório Cavalcanti publicado um livro sobre as melhores maneiras de se empregar a referida Euterpe com metralhadora Lurdinha. Floresceu muito, também, entre os Médicis de Florença e só não floresceu mais porque Florença temeu a concorrência e juizes severos praticaram a eutanásia na eutanásia, tendo ela embarcado para a França, onde apareceu num filme de André Cayatte e posso garantir que estava mais bonita do que nunca.
Mas o local onde crescem as maiores eutanásias que já tive oportunidade de saborear, é no 2o. pavilhão para tratamento psicológico, no Carandiru.
Olha, explico melhor --no tempo em que o cavalo de Tróia ainda era potro, já a eutanásia tinha dado duas voltas ao mundo, usada muitas vezes por pessoas que não tinham a mínima experiência e tentavam apagar alguém praticando a eutanásia e acabavam liquidando sem que a eutanásia sequer desse as caras. (Aqui conviria falar de Hiroshima e Nagasaki, mas eu agora estou sem vontade de me meter na guerra fria, pois acho que essa era até bem quente. Prefiro chuveiro. A propósito, alguém ai tem cinco notas de dez, dessas elásticas estou precisando lavar dinheiro).
Isso é a eutanásia, em suma. Quem souber mais e melhor que me diga, sendo que a bibliografia a respeito é muito rica, estando mesmo Trotsky preparando um grosso volume sobre o assunto quando Stalin praticou a eutanásia nele. E mais não digo porque, aqui pra nós, estou com eutanásia de assunto. (millôr)

Nenhum comentário:

Postar um comentário